Já há algum tempo que li este livro de poesia de Maria Teresa Horta. Descobri a sua escrita este ano e tem-me cativado e gerado curiosidade desde então.
Gosto desta poesia, assim direta e bem cuidada, sem artifícios ou purpurinas. E não é qualquer um que tem as palavras assim na ponta da escrita. Especialmente, no que toca a malandrices. E o quão difícil é agradar-me pela escrita nestas questões lascivas:
AMÊNDOA AMARGA
Esse travo inteiro
a amêndoa
amarga
A ameixa
a doce a ferver no tacho
Esse travo na língua
a fermentar no corpo
A febre a nascer
a crescer debaixo
Em baixo...
a saia a subir nas coxas
e esse cheiro mais grosso, se entreabro
As pernas os lábios
e o gosto
onde o sabor da amêndoa se torna mais
amargo
É esse o momento
o instante exacto
em que tudo se prende
ao gesto sem sentido
A calda no ponto
deixa a língua em brasa
E eu tiro pela cabeça
o meu vestido
Maria Teresa Horta - Destino
Orquídea
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