segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Destino - Maria Teresa Horta

Já há algum tempo que li este livro de poesia de Maria Teresa Horta. Descobri a sua escrita este ano e tem-me cativado e gerado curiosidade desde então.
Gosto desta poesia, assim direta e bem cuidada, sem artifícios ou purpurinas. E não é qualquer um que tem as palavras assim na ponta da escrita. Especialmente, no que toca a malandrices. E o quão difícil é agradar-me pela escrita nestas questões lascivas:

AMÊNDOA AMARGA

Esse travo inteiro
a amêndoa
amarga

A ameixa
a doce a ferver no tacho

Esse travo na língua
a fermentar no corpo

A febre a nascer
a crescer debaixo

Em baixo...
a saia a subir nas coxas
e esse cheiro mais grosso, se entreabro

As pernas os lábios
e o gosto
onde o sabor da amêndoa se torna mais
amargo

É esse o momento
o instante exacto
em que tudo se prende
ao gesto sem sentido

A calda no ponto
deixa a língua em brasa

E eu tiro pela cabeça
o meu vestido

Maria Teresa Horta - Destino

Orquídea

Sem comentários: