terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O Natal no Trabalho

Recebi hoje uma prenda de natal de um doentinho. Disse-me que era a forma que tinha de agradecer tudo o que tenho feito para o ajudar. Disse-lhe que ia pôr debaixo da árvore de Natal e ele sorriu.
Sabe bem quando percebemos que tocamos as pessoas, que as ajudamos. 
Não faz parte da nossa profissão esperar reconhecimento, agradecimento. Não é o nosso propósito e nem poderia ser, não podemos esperar que a nossa satisfação no trabalho venha do reconhecimento do mesmo nos nossos doentes. Estamos a fazer o nosso papel o melhor que podemos, não somos extraordinários, não fazemos mais do que o nosso colega. Ajudamos porque é nossa função e a do doente é apenas sê-lo. A satisfação do trabalho terá de vir apenas do puro ato de darmos o nosso melhor pelo outro.
A minha área é um caso especial neste aspeto. Tanto temos pessoas que não acreditam que estão doentes e que se ofendem e te insultam quando fazes o teu trabalho como tens outras que, por exemplo, pelos seus traços peculiares de personalidade, seduzem o doutor de todas as formas possíveis, agradecendo, elogiando e mimando. E, para nós, todos os atos são importantes, passíveis de interpretação à luz da patologia que os trouxe ali. Quer seja um insulto ou um mimo. 
Mas, de vez em quando, há um agradecimento especial. Vê-se nos olhos e sente-se na voz. E não me parece justo não o sentir apenas como tal, como um agradecimento sincero. Por isso recebo-o com alegria e humildade. Assim como a prenda de hoje. Será certamente uma prenda especial a abrir amanhã à meia-noite.

Orquídea

PS: Uso o termo "doente" para me referir a quem sigo em consulta. Não que estejam todos doentes, não os vejo certamente como tal, mas é o termo mais comum usado entre os médicos. Espero que não vos seja incómodo, uso-o porque o prefiro a "utente" ou "cliente". 

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