Última Revelação

Visto que a vontade de nos deixarmos de amarras aumenta e a amizade de outros cresce, decidimos contar a mais um amigo que, por vários motivos, calculámos que não se ia importar minimamente com o "alternativismo" da coisa. É de referir que é uma das pessoas do grande grupo da faculdade que me acompanha desde o 1º ano.

Coube-me a mim contar. Dito tudo muito rapidamente para despachar a coisa, recebo a seguinte resposta: "Oh, que bom! Já sabia! Todos sabem e acham muito fofinho!"

Erm... o quê?!

"De vez em quando o assunto vem à baila. É que vocês são mesmo o casal perfeito, são muito fofinhas e todos gostam de vos ver! Excepto a R. <amiga super religiosa>, mas eu ando a tentar convencê-la!"

Portanto... Nós bem tentamos (vá, não assim tanto) evitar expor-nos demasiado, para não surgirem comentários, e venho a saber que as conversas são mais que muitas sobre o casal invulgar que tenta disfarçar pela faculdade. E, o mais surpreendente, todos acham fofinho. Todos. Inclusivamente os religiosos e os conservadores. Menos a R., que ainda ontem me deu os parabéns com um grande sorriso e amizade sincera e estudou com a Papoila há umas semanas. Portanto...

Alguém me explica porque é que andamos sempre com medo?! Medo de quê?

Pelo tom de voz bem elevado com que me falava de homossexuais dentro do metro ("Não percebo porque é que os homossexuais usam o termo companheiro, qual é o vosso problema com namorado/a?!" ou ainda "É a tua primeira namorada?") e o à vontade com que me falava de si, dos outros e de nós, pergunto-me se não serei eu também culpada do tabu, da vergonha, da fobia social. Se todos falássemos assim, talvez os senhores engravatados e as senhoras da igreja não estranhassem tanto quando se fala na televisão e não torcessem tanto o nariz ao ver duas mãos juntas. Não sei. Envergonho-me por ter vergonha.

E ainda ouvi "Mas vocês trocam tão poucos carinhos! Porque é que os gays não mostram mais afecto?!".
Andamos nós preocupadas com abraços e toques discretos de dedos...

Orquídea