No mês passado, como forma desesperada de libertar algum do stress cumulativo despoletado pela época de exames, fui utente assídua das piscinas municipais. Nadava a deshoras, quando tinha a piscina só para mim - ou quase só para mim. Neste tempo redescobri que a solidão cria espaço para a reflexão. Sozinha, maravilhei-me com pormenores que, em qualquer outra situação, não me teriam despertado qualquer tipo de emoção. É sobre esses pormenores, que de tão poucos e irrelevantes irão fazer estranhar uma introdução tão complexa, que este post se debruça.
Houve dias em que comecei às 8h. A estas horas ainda o vento frio razava na minha pele, arregatando-me os pelos, que se eriçavam depois da passagem demorada pelo chuveiro. Quando finalmente descia a escada e entrava na água, era quase como que um abraço quente da água que, estranhamente, o ténue sol da manhã tinha conseguido amornar. Puxava para baixo a touca de silicone, que me arrepelava os fracos cabelos, para tapar as orelhas; ajustava os óculos, e iniciava.
Havia 5 pistas na piscina. No primeiro dia nadei na central (há uma sensação de magnitude, controlo e poder, escondidos numa decisão tão simples como esta) quando, ao me aproximar do fim da hora, me dei conta de uma moeda caída ao fundo. Apanhei-a e pu-la à beira, como oferta ao primeiro miúdo que aparecesse. No dia seguinte, curiosamente, encontrei outra. E no dia seguinte mais duas, ou três. Pensei em calções de banho com bolsos voláteis para o dinheiro. Pensei na Fonte de Trevi, mas seguramente não seria na esperança de ver um desejo concedido que alguém atiraria moedas para uma piscina. Velha. Isolada na ponta de uma cidade. Sem Deus, Santo ou qualquer espiritualidade at all. Mas foi mais tarde que o raciocínio simples me surgiu como um facho erguido na noite escura, e me concedeu a resposta ao enigma. Desafio-vos a encontrar a justificação.
Quando chegava mais tarde à piscina, e mais tarde chegava o término do meu exalar de energias, apareciam duas crianças. Sete, oito anos - não muito mais que isso - pulavam para a piscina como cabritos na serra (alguém que conheça esta vista campestre perceberá inteiramente o motivo da comparação). Quando na água, numa luta analfaquática, tentavam chegar à beira e agarrar-se ao mármore, antes de encherem o estômago com cloro e sabe-se-lá mais o quê. Nisto, passava-lhes pelo meio, na minha pista da piscina, tentando manter a exactidão das rectas que o meu nado desenhava. Foi aqui que encontrei beleza ao olhar um nadar irrequieto, que de cima apressam o coração (tenho sempre medo que algum dos miúdos se afogue), mas que debaixo proporciona um espectáculo visual que desconhecia. Havia bolhas de ar, pequenas e sem direcção estipulada, como electrões com spins incalculáveis, a nadar em todas as direcções. E eu, perdida no meio de tanta bolha, vi os raios de sol a divergirem ao embater nas bolas de ar e a criarem uma sensação de discoteca diurna subaquática. Uma maravilha.
Experiências subaquáticas... trarei mais.
Houve dias em que comecei às 8h. A estas horas ainda o vento frio razava na minha pele, arregatando-me os pelos, que se eriçavam depois da passagem demorada pelo chuveiro. Quando finalmente descia a escada e entrava na água, era quase como que um abraço quente da água que, estranhamente, o ténue sol da manhã tinha conseguido amornar. Puxava para baixo a touca de silicone, que me arrepelava os fracos cabelos, para tapar as orelhas; ajustava os óculos, e iniciava.
Havia 5 pistas na piscina. No primeiro dia nadei na central (há uma sensação de magnitude, controlo e poder, escondidos numa decisão tão simples como esta) quando, ao me aproximar do fim da hora, me dei conta de uma moeda caída ao fundo. Apanhei-a e pu-la à beira, como oferta ao primeiro miúdo que aparecesse. No dia seguinte, curiosamente, encontrei outra. E no dia seguinte mais duas, ou três. Pensei em calções de banho com bolsos voláteis para o dinheiro. Pensei na Fonte de Trevi, mas seguramente não seria na esperança de ver um desejo concedido que alguém atiraria moedas para uma piscina. Velha. Isolada na ponta de uma cidade. Sem Deus, Santo ou qualquer espiritualidade at all. Mas foi mais tarde que o raciocínio simples me surgiu como um facho erguido na noite escura, e me concedeu a resposta ao enigma. Desafio-vos a encontrar a justificação.
Quando chegava mais tarde à piscina, e mais tarde chegava o término do meu exalar de energias, apareciam duas crianças. Sete, oito anos - não muito mais que isso - pulavam para a piscina como cabritos na serra (alguém que conheça esta vista campestre perceberá inteiramente o motivo da comparação). Quando na água, numa luta analfaquática, tentavam chegar à beira e agarrar-se ao mármore, antes de encherem o estômago com cloro e sabe-se-lá mais o quê. Nisto, passava-lhes pelo meio, na minha pista da piscina, tentando manter a exactidão das rectas que o meu nado desenhava. Foi aqui que encontrei beleza ao olhar um nadar irrequieto, que de cima apressam o coração (tenho sempre medo que algum dos miúdos se afogue), mas que debaixo proporciona um espectáculo visual que desconhecia. Havia bolhas de ar, pequenas e sem direcção estipulada, como electrões com spins incalculáveis, a nadar em todas as direcções. E eu, perdida no meio de tanta bolha, vi os raios de sol a divergirem ao embater nas bolas de ar e a criarem uma sensação de discoteca diurna subaquática. Uma maravilha.
Experiências subaquáticas... trarei mais.
Papoila
4 comentários:
Já tive uma fase assim mas agora tenho pena de não ter tempo..
Durante muito tempo perdi moedas na piscina onde nadava, porque jogava com elas ao "jogo da moeda", que consistia em atirar uma moeda para o fundo da piscina e alguém ter da ir apanhar, mas ás vezes, sem saber porquê, ninguém encontrava a moeda, nem mesmo da parte de cima da piscina. Poderá ter acontecido isso, nessa piscina munincipal algures num canto da cidade ou, então, estão somente no fundo da piscina para que as encontres e sorrias, sabe-se lá.
Como te compreendo.
A água, em especial da piscina, também é o meu elemento!
Abraço
And the correct answer is.... C.!
=) beijinhos meninas*
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