Ainda hoje pensava nisso. Há muito preconceito em relação a doenças mentais. É quase uma vergonha dizer que se vai ao psicólogo ou ao psiquiatra. Era bom que começasse a mudar. Tal como tu, é mais fácil dizer que tenho uma namorada do que dizer que já tive numa urgência psiquiátrica. E isto é parvo. Acho que não devia ter vergonha disso! É importante começar-se a falar de saúde mental. De acabar com alguns mitos e preconceitos. É um tema bastante importante e que merece ser discutido!
Tendo estado na pele da prestadora de cuidados acho que é preciso falar-se cada vez mais disso e com menos vergonhas e menos véus. Para bem de quem necessita de acompanhamento e para bem de quem acompanha.
Acho que também é preciso que as "terapias" não foquem apenas o doente mas se estendam à família, grosso modo tão pouco preparada para compreender e lidar com os problemas entre mãos.
E é preciso falar, partilhar, aprender. Nesta luta não se pode estar sozinho.
Embora admita o preconceito por parte da sociedade, não sou capaz de ignorar o facto de tu seres a primeira a descriminar tua atitude. Não podemos apontar o dedo e dizer que os outros estigmatizam as nossas situações quando somos os primeiros a recuar por medo das eventuais consequências. Ninguém é rebaixado sem o próprio consentimento e isto vale para tudo desde o bullying até à violência doméstica ou à homofobia. Nesse sentido, o teu comportamento revela mais sobre ti do que da sociedade.
Carla |O|, tens toda a razão, quando se fala em doença mental, há doentes e há quem os rodeia, todos precisam de apoio e da so called psicoeducação.
B., confesso que o teu último parágrafo me deixou arrepiada. Ao afirmares que ninguém é rebaixado sem o próprio consentimento negas a existência de fragilidades individuais, tão habilmente aproveitadas pelos abusadores, e incitas a culpabilidade da vítima, o que promove ainda mais a vergonha, o silêncio, a conformação, a ausência da reclamação (e reconhecimento!) dos direitos ao respeito e dignidade. E na doença mental, onde há alteração da capacidade de se reclamar, mais ainda a tua afirmação se torna preocupante. Talvez quando lidares com frequência com situações de doença mental e fores confrontada com o estigma a ela associada compreendas o perigo da tua afirmação.
Como disse anteriormente, não nego o preconceito. Contudo, acredito que este tipo de problemas é combatido pelas próprias vítimas. É um ciclo vicioso: fragilidade gera vergonha; a vergonha faz o medo; o medo traz a culpa, a culpa leva ao preconceito e o preconceito resulta em fragilidade. A quebra do ciclo tem de partir de alguém porque quebra-lo é não consentir. A história do "se eu não gostar de mim quem gostará?" é exemplo disso, se são as próprias vitimas a sentirem vergonha do que fazem, como é que esperam que os outros não sintam também? Em última analise, incito à coragem e espero que os profissionais de saúde mental também sintam essa responsabilidade porque perigoso é incentivar à culpabilização. Não é preciso ser médico para perceber isso, pois não?
B, se as coisas fossem assim tão fáceis era óptimo mas nunca são assim tão fáceis. Não se pode desligar um botão e, de um dia para o outro, deixar de ter o problema ou deixar de ser o problema. Ademais estamos a falar de doenças do foro mental o que desvia o assunto muito para além das questões de auto-vitimização e preconceito e vergonha e o dever de lutar contra o bullying e etc.
Isto é uma coisa completamente diferente que nem sempre é consequência directa dos actos do individuo ou fruto do ambiente que o circunda ou provocada pela intervenção de terceiros. A partir do momento em que olhamos para a doença mental e para o doente mental e os classificamos dessa forma – como se só eles fossem culpados pelo seu estado e só não saíssem dele porque não querem – então estamos a confirmar que, de facto, a sociedade não entende estas questões e como não as entende, nem procura entende-las, incorre em julgamentos de valor gravíssimos e não faz aquilo que é suposto que faça: que participe activamente na terapia e inclua, normalize, ajude. Que aprenda. Que saia do alto da sua autoridade moral dita mentalmente normal e entenda que o cérebro humano é feito de muitas cambiantes e muitos, muitos, muitos, processos bioquímicos. Processos a que a vontade das pessoas é alheia e que não se tratam e curam apenas porque uma pessoa acorda um belo dia e diz: eu vou conseguir!!
Um doente no limiar das suas forças não tem capacidade para se erguer e lutar pelo direito à inclusão na sociedade. Um doente no limiar das suas forças precisa curar-se. Precisa viver mais um dia, aguentar mais um dia, precisa viver por etapas. A maior luta que o doente mental trava, na maior parte das vezes, nem é contra a sociedade e o seu direito a existir nela mas contra si mesmo. Contra a pulsão de desistir e deixar de existir. E isso não se consegue com máximas de “quem não gostar de mim quem gostará?”. Isso consegue-se com terapia, com medicamentos, com família e amigos a providenciar uma rede de apoio e, mais vezes do que não, em constante vigília. Em sobressalto. Com medo.
Nestes casos nem é tanto o individuo que tem de dizer à sociedade que “hey, apesar de tudo, sou normal, posso estar entre vocês” mas é a sociedade que tem de dizer ao individuo “hey, está tudo bem, estás entre nós, nós vamos ajudar”. Esta problemática não diz respeito apenas a um certo número de pessoas, diz respeito à sociedade por inteiro, diz respeito aos governos, diz respeito ao mundo que vive nesta era moderna em que estas doenças são cada vez mais predominantes. Diz respeito, também, à economia.
Não é a toa que há estudos, que há campanhas, que há previsões de como vai evoluir e de como vai afetar a todos. E se existe esta preocupação por parte de quem acha que é preciso tê-la então isso quer dizer que nem sempre é o individuo que tem capacidade para mudar a opinião da aldeia mas que é a aldeia que tem o dever de amparar o individuo. Quando o individuo não consegue falar – como muito bem aponta a Orquidia – alguém tem de falar por ele.
Primeiro, não estou a simplificar as coisas como tu fizeste parecer, é um processo das duas partes. Até porque se não há ninguém que acorde e diga: Vou conseguir!, também não há uma sociedade que acorde e diga: Agora eles merecem o mesmo respeito que nós! Segundo, concordo com o que tu disseste e acabaste por ir ao encontro do que escrevi quando dizes que "a sociedade não entende estas questões e como não as entende, nem procura entende-las, incorre em julgamentos de valor gravíssimos e não faz aquilo que é suposto que faça". Nesse sentido, o que proponho é que o processo seja feito, essencialmente, de dentro para fora e não o contrário. Para concluir, e como muito bem aponta umquartoparaduas, gostava de reforçar a ideia de que termos vergonha de assumir o problema é parvo.
Ai, tinha aqui um comentário enorme e isto foi-se. Resumindo: Eu acho parvo ter vergonha de ter uma doença mental. Assim como acho parvo um dia ter tido vergonha de ser lésbica. Mas isso é agora, com algum distanciamento e depois de um longo processo de aceitação. Não acontece de um dia para o outro. E o apoio de quem nos rodeia é fundamental. Claro, quanto mais informadas forem as pessoas (família, amigos, sociedade em geral), melhor. Só alguém informado e sem preconceitos nos pode ajudar. Porque se assim não for, por muita vontade e força que tenhamos para querer sair do "fundo do poço" (estou a falar da depressão, por exemplo), sem uma rede de apoio é quase impossível. Já para não falar de que essa vontade de querer ficar bem, nem sempre é fácil de alcançar. Umas vezes porque não se tem capacidade para tal, outras porque não há o tal apoio necessário. Olhem, estas coisas são complicadissimas. É uma espécie de bola de neve. Acho que nunca se deve culpar o doente, mas também não se deve vitimiza-lo em demasia. Mas, na minha opinião, é muito importante envolver a família, informar, quebrar mitos. Só assim a vergonha (do doente e de quem o rodeia) pode ser eliminada!
Uma mulher ter namorada já foi classificado como doença mental...portanto, dizer uma coisa não está temporalmente muito longe da outra. ;)
Bem, no meu meio teria mais dificuldade em dizer "tenho namorada" do que "vou ao psicólogo" curiosamente.
No entanto, acho que "psiquiatra" comporta mais estigma do que "psicólogo". Ir ao psiquiatra parece-me mais visto como "fim de linha a dar o tilt" (doença mental efectiva, que como dizes é mais estigmatizada) e ir ao psicólogo um nível mais atenuado desse fim de linha. É a sensação / pré-conceito que tenho.
Respondendo à tua questão directamente: Do que diz de mim? Talvez tenha recebido ao longo da minha vida mais feedbacks negativos relativos à homossexualidade (muitos de componente (a)moral, de vergonha e culpa) do que feedbacks negativos sobre a doença mental (algo a ter vergonha e a esconder também, mas que o individuo não tem culpa).
Do que diz da sociedade? Teria de pensar mais, mas é uma questão muito interessante para uma longa tertúlia. :)
Este coisa toda à volta das palavras da B. faz-me um pouco de confusao porque parece que ela disse que era fácil, pelas respostas que obteve parece que não sabe do que está a falar, parece que ela chegou ontem ao mundo e voces tem de dizer-lhe o que se anda a passar, como se a rapariga andasse de olhos tapados.
Toda a gente tem vergonhas e todos temos problemas. Nao acredito que ela seja excepção. Não a conheço, não sei a vida dela mas deu-me a sensaçao que alguem que fala assim até pode ter algum conhecimento de causa.
Nos dias em que vivemos é muito perigoso alguem ter uma soluçao diferente para um problema comum porque isso é confundido com uma certa prepotência e ignorancia. Eu propria ando a treinar-me para ouvir mais as pessoas que nao pensam como eu porque chega a um ponto e andamos todos mecanizados e standarizados,
Realmente, nunca tinha pensado o problema na perspectiva que ela o apresentou e, concordando ou não, é apenas uma opinião tão válida como as outras - Arrojada mas certeira e sensata.
Uma situação de vitimização comporta sempre uma desigualdade de poder, seja ele qual for: de força, de cifrões, de número, de status social, etc etc.
Pode-se ter a "vítima" mais empowered do mundo, que se a desigualdade for brutal a luta está perdida.
É preciso muito cuidado quando se aborda estes fenómenos (bullying, violencia doméstica, homofobia etc) porque as soluções, à semelhança das realidades, são várias, diversificadas, mas muito pouco lineares.
E nenhum ser humano é uma ilha de onde se possa isolar de todas as toxicidades do ar. Ainda ontem me espantei que o discurso do Papa fosse tão pro-women (basicamente as mulheres são espectaculares e todos aplaudiram), mas a instituição que representa nunca permitiria uma mulher discursar daquela janela. É só para mim que isto é incoerente? Sou apenas eu que sinto que a mulher é inferiorizada e ainda aplaude?
Agora pegar num ser fragilizado (vá, aí uma depressão profunda que nem pela vida lhe apeteça lutar) e colocá-lo de cartaz em punho... :)
Estas discussões são boas para despertar consciências. E essas sim podem mudar o mundo. A mim já me fez pensar em algo diferente hoje!
Meet people with a different point of view. I hope you live a life you're proud of. If you find that you're not, I hope you have the strength to start all over again.
13 comentários:
Ainda hoje pensava nisso. Há muito preconceito em relação a doenças mentais. É quase uma vergonha dizer que se vai ao psicólogo ou ao psiquiatra.
Era bom que começasse a mudar.
Tal como tu, é mais fácil dizer que tenho uma namorada do que dizer que já tive numa urgência psiquiátrica. E isto é parvo. Acho que não devia ter vergonha disso!
É importante começar-se a falar de saúde mental. De acabar com alguns mitos e preconceitos.
É um tema bastante importante e que merece ser discutido!
Tendo estado na pele da prestadora de cuidados acho que é preciso falar-se cada vez mais disso e com menos vergonhas e menos véus. Para bem de quem necessita de acompanhamento e para bem de quem acompanha.
Acho que também é preciso que as "terapias" não foquem apenas o doente mas se estendam à família, grosso modo tão pouco preparada para compreender e lidar com os problemas entre mãos.
E é preciso falar, partilhar, aprender. Nesta luta não se pode estar sozinho.
*começar
* e de acabar...
Embora admita o preconceito por parte da sociedade, não sou capaz de ignorar o facto de tu seres a primeira a descriminar tua atitude.
Não podemos apontar o dedo e dizer que os outros estigmatizam as nossas situações quando somos os primeiros a recuar por medo das eventuais consequências.
Ninguém é rebaixado sem o próprio consentimento e isto vale para tudo desde o bullying até à violência doméstica ou à homofobia. Nesse sentido, o teu comportamento revela mais sobre ti do que da sociedade.
Carla |O|, tens toda a razão, quando se fala em doença mental, há doentes e há quem os rodeia, todos precisam de apoio e da so called psicoeducação.
B., confesso que o teu último parágrafo me deixou arrepiada. Ao afirmares que ninguém é rebaixado sem o próprio consentimento negas a existência de fragilidades individuais, tão habilmente aproveitadas pelos abusadores, e incitas a culpabilidade da vítima, o que promove ainda mais a vergonha, o silêncio, a conformação, a ausência da reclamação (e reconhecimento!) dos direitos ao respeito e dignidade. E na doença mental, onde há alteração da capacidade de se reclamar, mais ainda a tua afirmação se torna preocupante. Talvez quando lidares com frequência com situações de doença mental e fores confrontada com o estigma a ela associada compreendas o perigo da tua afirmação.
Como disse anteriormente, não nego o preconceito. Contudo, acredito que este tipo de problemas é combatido pelas próprias vítimas.
É um ciclo vicioso: fragilidade gera vergonha; a vergonha faz o medo; o medo traz a culpa, a culpa leva ao preconceito e o preconceito resulta em fragilidade. A quebra do ciclo tem de partir de alguém porque quebra-lo é não consentir.
A história do "se eu não gostar de mim quem gostará?" é exemplo disso, se são as próprias vitimas a sentirem vergonha do que fazem, como é que esperam que os outros não sintam também?
Em última analise, incito à coragem e espero que os profissionais de saúde mental também sintam essa responsabilidade porque perigoso é incentivar à culpabilização. Não é preciso ser médico para perceber isso, pois não?
B, se as coisas fossem assim tão fáceis era óptimo mas nunca são assim tão fáceis. Não se pode desligar um botão e, de um dia para o outro, deixar de ter o problema ou deixar de ser o problema. Ademais estamos a falar de doenças do foro mental o que desvia o assunto muito para além das questões de auto-vitimização e preconceito e vergonha e o dever de lutar contra o bullying e etc.
Isto é uma coisa completamente diferente que nem sempre é consequência directa dos actos do individuo ou fruto do ambiente que o circunda ou provocada pela intervenção de terceiros.
A partir do momento em que olhamos para a doença mental e para o doente mental e os classificamos dessa forma – como se só eles fossem culpados pelo seu estado e só não saíssem dele porque não querem – então estamos a confirmar que, de facto, a sociedade não entende estas questões e como não as entende, nem procura entende-las, incorre em julgamentos de valor gravíssimos e não faz aquilo que é suposto que faça: que participe activamente na terapia e inclua, normalize, ajude. Que aprenda. Que saia do alto da sua autoridade moral dita mentalmente normal e entenda que o cérebro humano é feito de muitas cambiantes e muitos, muitos, muitos, processos bioquímicos. Processos a que a vontade das pessoas é alheia e que não se tratam e curam apenas porque uma pessoa acorda um belo dia e diz: eu vou conseguir!!
Um doente no limiar das suas forças não tem capacidade para se erguer e lutar pelo direito à inclusão na sociedade. Um doente no limiar das suas forças precisa curar-se. Precisa viver mais um dia, aguentar mais um dia, precisa viver por etapas. A maior luta que o doente mental trava, na maior parte das vezes, nem é contra a sociedade e o seu direito a existir nela mas contra si mesmo. Contra a pulsão de desistir e deixar de existir. E isso não se consegue com máximas de “quem não gostar de mim quem gostará?”. Isso consegue-se com terapia, com medicamentos, com família e amigos a providenciar uma rede de apoio e, mais vezes do que não, em constante vigília. Em sobressalto. Com medo.
Nestes casos nem é tanto o individuo que tem de dizer à sociedade que “hey, apesar de tudo, sou normal, posso estar entre vocês” mas é a sociedade que tem de dizer ao individuo “hey, está tudo bem, estás entre nós, nós vamos ajudar”. Esta problemática não diz respeito apenas a um certo número de pessoas, diz respeito à sociedade por inteiro, diz respeito aos governos, diz respeito ao mundo que vive nesta era moderna em que estas doenças são cada vez mais predominantes. Diz respeito, também, à economia.
Não é a toa que há estudos, que há campanhas, que há previsões de como vai evoluir e de como vai afetar a todos. E se existe esta preocupação por parte de quem acha que é preciso tê-la então isso quer dizer que nem sempre é o individuo que tem capacidade para mudar a opinião da aldeia mas que é a aldeia que tem o dever de amparar o individuo. Quando o individuo não consegue falar – como muito bem aponta a Orquidia – alguém tem de falar por ele.
Primeiro, não estou a simplificar as coisas como tu fizeste parecer, é um processo das duas partes. Até porque se não há ninguém que acorde e diga: Vou conseguir!, também não há uma sociedade que acorde e diga: Agora eles merecem o mesmo respeito que nós!
Segundo, concordo com o que tu disseste e acabaste por ir ao encontro do que escrevi quando dizes que "a sociedade não entende estas questões e como não as entende, nem procura entende-las, incorre em julgamentos de valor gravíssimos e não faz aquilo que é suposto que faça". Nesse sentido, o que proponho é que o processo seja feito, essencialmente, de dentro para fora e não o contrário.
Para concluir, e como muito bem aponta umquartoparaduas, gostava de reforçar a ideia de que termos vergonha de assumir o problema é parvo.
Ai, tinha aqui um comentário enorme e isto foi-se.
Resumindo:
Eu acho parvo ter vergonha de ter uma doença mental. Assim como acho parvo um dia ter tido vergonha de ser lésbica.
Mas isso é agora, com algum distanciamento e depois de um longo processo de aceitação.
Não acontece de um dia para o outro. E o apoio de quem nos rodeia é fundamental. Claro, quanto mais informadas forem as pessoas (família, amigos, sociedade em geral), melhor. Só alguém informado e sem preconceitos nos pode ajudar. Porque se assim não for, por muita vontade e força que tenhamos para querer sair do "fundo do poço" (estou a falar da depressão, por exemplo), sem uma rede de apoio é quase impossível. Já para não falar de que essa vontade de querer ficar bem, nem sempre é fácil de alcançar. Umas vezes porque não se tem capacidade para tal, outras porque não há o tal apoio necessário.
Olhem, estas coisas são complicadissimas. É uma espécie de bola de neve. Acho que nunca se deve culpar o doente, mas também não se deve vitimiza-lo em demasia.
Mas, na minha opinião, é muito importante envolver a família, informar, quebrar mitos. Só assim a vergonha (do doente e de quem o rodeia) pode ser eliminada!
umquartoparaduas, tens toda a razão, ninguém disse que era fácil! :)
Uma mulher ter namorada já foi classificado como doença mental...portanto, dizer uma coisa não está temporalmente muito longe da outra. ;)
Bem, no meu meio teria mais dificuldade em dizer "tenho namorada" do que "vou ao psicólogo" curiosamente.
No entanto, acho que "psiquiatra" comporta mais estigma do que "psicólogo". Ir ao psiquiatra parece-me mais visto como "fim de linha a dar o tilt" (doença mental efectiva, que como dizes é mais estigmatizada) e ir ao psicólogo um nível mais atenuado desse fim de linha. É a sensação / pré-conceito que tenho.
Respondendo à tua questão directamente: Do que diz de mim? Talvez tenha recebido ao longo da minha vida mais feedbacks negativos relativos à homossexualidade (muitos de componente (a)moral, de vergonha e culpa) do que feedbacks negativos sobre a doença mental (algo a ter vergonha e a esconder também, mas que o individuo não tem culpa).
Do que diz da sociedade? Teria de pensar mais, mas é uma questão muito interessante para uma longa tertúlia. :)
Arine
Este coisa toda à volta das palavras da B. faz-me um pouco de confusao porque parece que ela disse que era fácil, pelas respostas que obteve parece que não sabe do que está a falar, parece que ela chegou ontem ao mundo e voces tem de dizer-lhe o que se anda a passar, como se a rapariga andasse de olhos tapados.
Toda a gente tem vergonhas e todos temos problemas. Nao acredito que ela seja excepção. Não a conheço, não sei a vida dela mas deu-me a sensaçao que alguem que fala assim até pode ter algum conhecimento de causa.
Nos dias em que vivemos é muito perigoso alguem ter uma soluçao diferente para um problema comum porque isso é confundido com uma certa prepotência e ignorancia. Eu propria ando a treinar-me para ouvir mais as pessoas que nao pensam como eu porque chega a um ponto e andamos todos mecanizados e standarizados,
Realmente, nunca tinha pensado o problema na perspectiva que ela o apresentou e, concordando ou não, é apenas uma opinião tão válida como as outras - Arrojada mas certeira e sensata.
Uma situação de vitimização comporta sempre uma desigualdade de poder, seja ele qual for: de força, de cifrões, de número, de status social, etc etc.
Pode-se ter a "vítima" mais empowered do mundo, que se a desigualdade for brutal a luta está perdida.
É preciso muito cuidado quando se aborda estes fenómenos (bullying, violencia doméstica, homofobia etc) porque as soluções, à semelhança das realidades, são várias, diversificadas, mas muito pouco lineares.
E nenhum ser humano é uma ilha de onde se possa isolar de todas as toxicidades do ar. Ainda ontem me espantei que o discurso do Papa fosse tão pro-women (basicamente as mulheres são espectaculares e todos aplaudiram), mas a instituição que representa nunca permitiria uma mulher discursar daquela janela. É só para mim que isto é incoerente? Sou apenas eu que sinto que a mulher é inferiorizada e ainda aplaude?
Agora pegar num ser fragilizado (vá, aí uma depressão profunda que nem pela vida lhe apeteça lutar) e colocá-lo de cartaz em punho... :)
Estas discussões são boas para despertar consciências. E essas sim podem mudar o mundo. A mim já me fez pensar em algo diferente hoje!
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