Foi quase por coincidência que acabei nas comemorações do Dia Mundial da Poesia no CCB. E foi nessa mesma coincidência que assisti a uma aula sobre poesia contemporânea. Resultado: uma vontade enorme de voltar à poesia.
Assim, deixo-vos algumas sugestões que nos foram dadas de duas poetisas contemporâneas que deverão ficar marcadas na história da nossa poesia.
Margarida Vale de Gato
ÉMULOS
Foi como amor aquilo que fizemos
ou tacto tácito? – os dois carentes
e sem manhã sujeitos ao presente;
foi logro aceite quando nos fodemos
Foi circo ou cerco, gesto ou estilo
o acto de abraçarmos? foi candura
o termos juntos sexo com ternura
num clima de aparato e de sigilo.
Se virmos bem ninguém foi iludido
de que era a coisa em si – só o placebo
com algum excesso que acelera a líbido.
E eu, palavrosa, injusta desconcebo
o zelo de que nada fosse dito
e quanto quis tocar em estado líquido.
Golgona Anghel
Não me interessa o que
dizem os dissidentes da ditadura.
Mas confesso que gostava dos chocolates Toblerone
que a minha tia me trazia no Natal.
Não acredito nos detidos políticos,
nem me impressionam os miúdos descalços
que mostram os dentes para as máquinas Minolta
dos turistas italianos.
Não vou pedir asilo.
Desconheço os avanços
ou retrocessos económicos do meu país.
Já falei de Drácula que chegue.
Já apanhei morangos na Andaluzia.
Já fui cigana, já fui puta.
Escusam de mo perguntar outra vez.
O que me preocupa – e isso, sim, pode ser relevante
para o fim da história – é saber
quando é que me transformei,
eu que era uma loba solitária,
neste caniche de apartamento que vos fala agora?
Orquídea
1 comentário:
:) Ainda bem que voltaste para a poesia.
Beijinhos*
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