As boas memórias relativas à escrita do Gonçalo M. Tavares e o incentivo por parte da s levaram-me a embrenhar-me neste livro no passado mês de fevereiro.
Alguns séculos depois da viagem à Índia por Vasco da Gama ter sido vangloriada e relatada pelos Lusíadas, eis que Gonçalo M. Tavares propõe nova viagem, novo herói e o mesmo destino. A escrita remete também para a obra de Camões, com o livro dividido em dez cantos escritos em estrofes, um pouco mais livres na sua estrutura. Até as temáticas dos acontecimentos de alguns capítulos se aproximam entre as duas obras.
São talvez estes pontos em comum que dão ainda mais valor ao livro de M. Tavares. Tal como o nome indica, trata-se de uma viagem, do percurso até à Índia e da procura e viagem interior que a personagem faz ao longo do percurso. Com paragens em Londres ou Paris, o relato não esquece as particularidades destas cidades e dos seus habitantes, especialmente os que se cruzam com o herói desta história.
Com uma escrita bonita e elevada, Gonçalo M. Tavares comprova a sua importância no panorama da literatura em Portugal assim como a sua versatilidade na construção dos seus trabalhos. Recomendo e deixo-vos um aperitivo.
Canto I
70
"Bloom procurava o insólito que não
sendo acontecimento mudo ou ruído, sendo
sítio, obriga a caminhar. Se o que procuro
chegasse à minha cadeira,
para que serviriam os sapatos? Mas é já
um conhecimento clássico: acontecimentos novos
existem em espaços novos, e não em antigos.
Não deixes que a tua cadeira confortável prejudique
a tua curiosidade."
Orquídea
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