quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Companhia

Entrei na faculdade sozinha. Durante dois anos isolei-me. Quis alguém para mim e filosofei muito sobre isso. Ainda não me apercebera, na altura, do porquê da necessidade de sistematizar tudo na minha cabeça, para que não falhasse depois. Pensei, várias vezes, só quero uma companhia. Só alguém que não se importe de vir comigo até onde preciso, de ir buscar uns livros ou fazer a cópia de uma chave. Só preciso que alguém me acompanhe na rua para que não me sinta tão só.


No segundo ano, encontrei o rapaz perfeito para mim. Acreditei na paixão, mas resguardei-me. Desta vez, não haveria mais nada para além desta conclusão porque, simplesmente, não iria dar. Sabia (vá-se lá saber como) que, mesmo que o simpático rapaz me quisesse, não lhe chegaria. Não ia resultar. Não era infeliz, mas seguia calada.
Ela apareceu no ano seguinte. Não tinha sistematizado nem criado nenhuma lei relativamente a possíveis envolvimentos deste género e era, portanto, livre. Assustada, mas livre. Dei cada passo à velocidade a que devia, não houve sobressaltos, pressas ou arrependimentos. Tudo no seu lugar. Inacreditavelmente no seu lugar. Compreendi, após muita conversa interna, o porquê de tanta obstinação nos amores antigos.
Ela acompanha-me. Ela não se aborrece e entusiasma-me. Exploramos a cidade, as ruas de sempre com uns olhos novos, com a cumplicidade que sonhava e uma pitada de coragem que sempre me faltou para entrar quando a porta é convidativa.
Já descobrimos a Hemeroteca (perguntámos até, sem embaraço, o que era a hemeroteca à senhora da recepção), algumas lojinhas de artesanato, as pastelarias tradicionais, os lojas de antiguidades e os móveis chiques do Chiado, experimentámos um vegetariano pouco satisfatório e falámos com um senhor que vende quadros e nos explicou o negócio.
É por isto que o rapaz não me serve. Foi para isto que me guardei.

Posfácio: O rapaz é um dos nossos melhores amigos. Foi quem me lembro que mais sorriu e mais feliz se mostrou quando soube que estávamos juntas. E, por vezes, também nos acompanha nas ruas.

Orquídea

4 comentários:

Paula Baltazar Martins disse...

Encontráste a pessoa que acompanha o teu ritmo, os teus gostos, caprichos... e ainda ganháste um amigo. Aqui está uma história com um final bem feliz :D

Anónimo disse...

A descoberta de quem nos preenche é realmente a melhor descoberta!

Caramela disse...

Ao ler sorri, porque é de sorrisos que essa companhia é feita. E de amor também.
Que descubram muito mais na companhia uma da outra. :)
Beijinhos

Timona disse...

:)
(e afinal o que é a hemeroteca? :P)