domingo, 10 de maio de 2009

Concerto de fim-de-semana

Ontem conduziste-te até mim, vinda de longe. Pensei que acabasses por não vir, tamanho é o medo e o comando automático da tua vida, mas vieste. Assistimos ao concerto rodeadas de gente, de olhos discriminatórios, e não nos tocámos. Não segurei a tua mão na minha nem o meu braço poisou sobre a tua cintura, alta. Os nossos corpos agiram como estranhos, como se não conhecesse as tuas covinhas, a forma do teu umbigo, o jeito como coras e cada estria azul do teu olho. Mas, cá dentro, beijei-te como nos filmes. A minha mão entrou ligeiramente pela tua camisola, fingindo não discernir onde acabava a roupa e começava a tua pele suave. Sorri-te de modo apaixonado e jurei-te amor eterno quando o saxofone solou. E, quando tudo findou, enquanto os instrumentos eram arrumados num ritual de quase luto, não te deixei ir embora. Prendi-te e convidei-te para jantar.

Papoila

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