domingo, 28 de junho de 2015

O livro da Orquídea

Estive a matar saudades dos posts antigos e apercebi-me que não cheguei a falar do livro que editei o ano passado. É verdade, compilei uns textos antigos que tinha guardado há alguns anos e decidi dar-lhes vida.
Lembram-se de há uns anos ter passado um mês fora? Fiz um estágio no estrangeiro e, na altura, escrevi um pequeno texto para cada um dos dias, sobre algo especial que acontecera, no hospital, com os novos amigos, com os lugares que visitei. Gosto muito do resultado final, acho que mostra o quão rica pode ser uma experiência destas, a nível profissional e pessoal. 
Por questões de privacidade e anonimato neste blog, não vou divulgar o título (nem o nome da autora...) aqui, mas tenho muito gosto em fazê-lo se mo perguntarem em mensagem privada (já sabem, underthepeachtree at gmail ponto com). Quem tiver interessad@ em ter um exemplar, diga-me!

Orquídea

6 Meses em Barcelona


Está na altura de vos contar a novidade do ano. Vou passar seis meses em Barcelona a estagiar. Vou em outubro e regresso no final de março. Irei sozinha, o que obviamente não nos deixa as duas felizes, mas vai ser uma experiência importante para ambas.
Sempre quis fazer Erasmus, mas na altura não era possível nem ideal para a fase em que estávamos, pelo que adiei e senti que não poderia perder a oportunidade durante o internato. Estamos neste momento numa fase muito boa, estável em vários sentidos, com muitas viagens compradas entre cá e lá para ajudar a lidar com a distância. Apreensivas mas confiantes de que vai correr tudo bem. 
Vou dando notícias!

Orquídea

Amizade


Tenho uma amiga católica muito devota e praticante. É a Fé que a guia e suporta nos seus dias e sei o quão importante isso é para ela. Dá-lhe paz, conforto, segurança, coragem. Mas, a certa altura, pôs-nos à prova.
Somos muito amigas. Muito mesmo. Ela tem sido o meu pilar ao longo do internato, tem sido o ombro amigo, quem ouve, quem compreende, quem sabe exatamente o que dizer de volta. E, à medida que nos íamos aproximando, o facto de não falarmos sobre a Papoila angustiava-me. Ela sabia que namorávamos, mas não falávamos sobre isso. Comecei a sentir que, se eu roçava esse tema, ficava um silêncio que apenas escutava, sem dar resposta.
Não aguento estes desconfortos muito tempo. A certa altura, falámos abertamente. Compreendi então que, no fundo, o silêncio escondia incompreensão, censura, mas uma vontade genuína de não interferir por não se sentir no direito de opinar sobre a minha vida e as minhas escolhas. "Tenho dificuldade em acreditar que podes ser feliz assim", confessou, depois de eu puxar por ela. Doeu. E doeu mais ainda quando, a certa altura, falámos sobre o facto de não aceitar os meus convites para vir a nossa casa. Pesando bem as palavras para não me ferir, acabou por dizer que não queria ter o seu nome associado (não sei bem a quê). Partiu-me o coração, chorei, tentei explicar-lhe o que sentia. A minha verdade não tem de ser a tua verdade, o teu destino não tem de ser igual ao meu, mas são os dois válidos. Não há nenhum papel para tu assinares por ires a minha casa. Recusas-me ao recusares o convite para minha casa, para o meu lar, para a minha intimidade. Não convidamos qualquer um para a nossa intimidade, não nos expomos assim. Ouviu-me com atenção, com carinho e amizade. Com o amor de quem ama verdadeiramente o próximo. 
Passado algumas semanas repeti-lhe o convite, como lhe dissera que o faria. Perguntou-me o dia e a que horas e confirmou-me imediatamente a sua presença. Agora pergunta-me sempre pela Papoila, manda-lhe beijinhos e até a inclui em planos nossos. É nossa amiga. Minha, dela e nossa. É das melhores pessoas e amigas com quem me tenho cruzado.
Não voltámos a falar do assunto. Continuo sem saber se, quando casarmos, ela aceitará o convite. Nem sei se mudou a sua opinião relativamente a este tema ou outros deste género. Nem sei o que a fez mudar de posição. Mas pouco importa. A amizade prevalece. O Amor. O verdadeiro. 
Há esperança no mundo.

Orquídea

Celebrações e amarguras (e alegrias outra vez)

(Será um post longo... Talvez para compensar a ausência e despejar o que tem sido acumulado)

Tenho saudades de conversar convosco e hoje preciso.
Tanta celebração pelas redes sociais. Foi a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal dos EUA e, não esquecer, a aprovação no nosso parlamento do Dia Nacional Contra a Homofobia e Transfobia, a 17 de maio.
Demorei a ceder à onda arco-íris das imagens de perfil do Facebook, gosto pouco destas modas em redes sociais, mas lá me juntei. Isto porque fiquei muito contente, comovida até, ao ver amigos heterossexuais celebrarem com igual alegria este passo importante nos EUA. E isso deixa-me tão feliz. Não termos medo de celebrar os direitos dos outros, demonstrando o quanto isso não nos perturba e, antes pelo contrário, nos alegra e orgulha.
Porém, estremeci ainda há pouco. Um like de uma colega minha de trabalho a um comentário homofóbico que sublinhava que nem o Supremo Tribunal é capaz de mudar a verdade de que um homem é feito para uma mulher e vice-versa. As palavras ferem. São perigosas e, atrevo-me a dizer, podem matar. E é angustiante ver a naturalidade com que se acompanham de um sorriso casto que justifica a ideologia em nome do Amor, da Família, da Verdade. Apresentam-se como Homens de bom coração, que cuidam dos pobres e mal-afortunados, que amam o outro acima de tudo. E afinal...
Não me surpreendeu esta identificação da minha colega com aquelas palavras. Já antes a vira defender a proibição da adoção a casais do mesmo sexo na mesma rede social. Sabendo que haverá sempre pessoas para as duas frentes, esta preocupa-me particularmente por trabalhar na minha área, a Saúde Mental. Receio as suas crenças pessoais se sobreponham aos factos médicos, científicos, reais, e que, caso isto aconteça, prejudique o desenvolvimento positivo de alguém da sua consulta. E, por outro lado, se alguém com o seu cargo defende estas ideias publicamente, quem as ouve é capaz de julgar que, por trabalhar nesta área, há de ter alguma base médica para o defender. Receio...
Mas depois recordo o caminho que já percorri e as pessoas com quem já me cruzei. Outros colegas. Lembro-me dos dias que passei recentemente com os meus colegas e onde falámos natural e abertamente da minha relação com a Papoila, com o carinho e compreensão de todos (que, aliás, fartaram-se de a elogiar). Lembro-me de como tenho contado a todos eles da forma mais natural possível (estou a ficar perita no método tcharam, é do melhor!) e como não há uma pinga de reação estranha ou desconfortável e a incluem nas conversas como a qualquer companheiro de vida de outra colega. Até já a minha orientadora conheceu a Papoila. E está tudo bem.
E lembro-me então da pessoa que mais me ajudou a acreditar que tudo é possível e que, sim, #LoveWins. Acho que vou contar no post seguinte, porque merece... 

Orquídea