domingo, 28 de junho de 2015

Amizade


Tenho uma amiga católica muito devota e praticante. É a Fé que a guia e suporta nos seus dias e sei o quão importante isso é para ela. Dá-lhe paz, conforto, segurança, coragem. Mas, a certa altura, pôs-nos à prova.
Somos muito amigas. Muito mesmo. Ela tem sido o meu pilar ao longo do internato, tem sido o ombro amigo, quem ouve, quem compreende, quem sabe exatamente o que dizer de volta. E, à medida que nos íamos aproximando, o facto de não falarmos sobre a Papoila angustiava-me. Ela sabia que namorávamos, mas não falávamos sobre isso. Comecei a sentir que, se eu roçava esse tema, ficava um silêncio que apenas escutava, sem dar resposta.
Não aguento estes desconfortos muito tempo. A certa altura, falámos abertamente. Compreendi então que, no fundo, o silêncio escondia incompreensão, censura, mas uma vontade genuína de não interferir por não se sentir no direito de opinar sobre a minha vida e as minhas escolhas. "Tenho dificuldade em acreditar que podes ser feliz assim", confessou, depois de eu puxar por ela. Doeu. E doeu mais ainda quando, a certa altura, falámos sobre o facto de não aceitar os meus convites para vir a nossa casa. Pesando bem as palavras para não me ferir, acabou por dizer que não queria ter o seu nome associado (não sei bem a quê). Partiu-me o coração, chorei, tentei explicar-lhe o que sentia. A minha verdade não tem de ser a tua verdade, o teu destino não tem de ser igual ao meu, mas são os dois válidos. Não há nenhum papel para tu assinares por ires a minha casa. Recusas-me ao recusares o convite para minha casa, para o meu lar, para a minha intimidade. Não convidamos qualquer um para a nossa intimidade, não nos expomos assim. Ouviu-me com atenção, com carinho e amizade. Com o amor de quem ama verdadeiramente o próximo. 
Passado algumas semanas repeti-lhe o convite, como lhe dissera que o faria. Perguntou-me o dia e a que horas e confirmou-me imediatamente a sua presença. Agora pergunta-me sempre pela Papoila, manda-lhe beijinhos e até a inclui em planos nossos. É nossa amiga. Minha, dela e nossa. É das melhores pessoas e amigas com quem me tenho cruzado.
Não voltámos a falar do assunto. Continuo sem saber se, quando casarmos, ela aceitará o convite. Nem sei se mudou a sua opinião relativamente a este tema ou outros deste género. Nem sei o que a fez mudar de posição. Mas pouco importa. A amizade prevalece. O Amor. O verdadeiro. 
Há esperança no mundo.

Orquídea

Sem comentários: