domingo, 6 de maio de 2012

Vivida é. Tal como tu.


Se até eu escrevo, quem és tu para não acreditar.
Isso é, também, orgulho.

Vivida nunca tivera grande habilidade para distinguir a fantasia do autêntico e palpável. Dos livros que lera, à revelia de seu pai, haviam-se-lhe intersectado as ideias com suas próprias vivências. Seu pai lhe dizia que a literatura era para os loucos e que gerava padecimentos múltiplos. Com o repetir do costume, se instalou a doença moderna e contagiosa, o Síndrome Utópico. Doença dos leitores, sonhadores e alguns políticos, permanecia, no entanto, rara. Processo moroso foi o do diagnóstico. Seu pai, Facilitado, desconfiado da instalação do agente infecioso em sua primogénita, correu à procura de especialista. Embora pouco estudada, diziam as mulheres de idade que era mal de peito profundo, tendo Facilitado, por essa razão, catado cura nos médicos do coração. Nem esses, nem os restantes, nem até as benzeduras da Tia Ascensão-Céu Virgem, a livraram do infortúnio. Com sentença vitalícia para padecimento de Síndrome Utópico andou, desde então, vivendo Vivida. O que Facilitado desconhecia era que esta, secretamente, preservava um lerdo orgulho por carregar esta doença na profundura de entre os seios.

Até aqui a história de Vivida pode parecer-vos trivial. O que desconhecem, caros leitores, é que este Síndrome Utópico carrega consigo mais peso do que pode, primeiramente, sugerir.

Papoila 

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