terça-feira, 27 de abril de 2010

Asneiras

Já fiz asneira. Já não há novidade nenhuma para os meus pais. Há algum tempo que, todos os dias, me perguntam por amigos rapazes, que insinuam que tenho de ser delicada com eles, que protestam por só falar de amigas. O meu irmão já entrou igualmente na onda de criticar a suposta ausência do sexo masculino na minha vida.
Eles sabem. Eles conhecem-me, sabem quando minto, sabem quando escondo, sabem quando há algo de diferente. E sabem que há aqui algo de muito diferente. E criticam.
Já não vai haver surpresa nenhuma. Tenho pesadelos com o dia em que terei de lhes falar do assunto. Não contarei nada de novo, porque o sabem, falarei apenas. Aí, terão a liberdade de me dizer toda a revolta e angustia que sentem neste momento e que não podem partilhar porque, simplesmente, ainda não lhes disse nada.

Já sei cada acusação que farão, conheço-os bem. Pesa-me o peito sempre que os oiço, dentro e fora de mim. Não sei até quando aguenta.

Enterro-me em algo que ainda não sei ser. Adapto-me a custo. E não sei o que esperar.

Queria-me longe. Hoje não.

Orquídea

8 comentários:

~Branka de Neve disse...

Há pouco tempo que vos leio...mas desde que o faço que quase corro para ler um pouco mais...
Corro porque reconheço nas vossas palavras, um pouco de mim...do que fui, do que vivi.
Ao ler-vos consigo sentir o tamanho desse amor que existe num olhar, que provoca frio na barrica, que enfrenta o medo...mesmo temendo as criticas.
Já pouco sou dessa pessoa que viveu tudo isso. Mas mesmo assim ainda consigo recordar e sentir...e confesso que até chego a ter saudades...
Saudades desse amor que é tão grande e que mesmo tendo coisas más (como o medo e as possiveis criticas dos mais próximos que tanto tememos...)essas coisas são tão pequenas que não conseguirão deitar abaixo esse sentimento.
Sim, às vezes faz-se muita asneira. Mas como não fazer quando o que mais se quer é viver o que se sente e gritá-lo ao mundo...ou, pelo menos, vive-lo em paz...sem medos...às vezes o que se sente não cabe no coração e atravessa o corpo e a pele, refletindo-se em cada pedacinho de nós...porque ter de esconder o que sentimos...?

Amem, amem muito, e amem a quem quiserem...Porque amar é lindo...não importa quem, muito menos o genero, a cor, a religiãoou qualquer outro preconceito como os muitos que por ai há...

Esse amor, vai ser sempre maior que as criticas e os medos...e um dia, possivelmente, essas vozes calar-se-ão...cansadas de lutar contra algo tão grande...ou, quem sabe, se surpreendam com a dimensão do mesmo e se calem por si mesmas...acabando por sorrir, mais tarde...
quem sabe...não custa acreditar!
Força!

*~Branka de Neve

Catarina disse...

Há coisas que devemos (mesmo) ter presentes dentro de nós. E uma delas é precisamente o que é que levará os teus a sofrerem. A acusarem. A apontarem. Não digo que não estão no direito deles, são seres humanos e têm direito a sentir, alegria e tristeza. Mas no meio da dor,incerteza,incognita, pensa somente naquilo que os levará a sofrer. És tu ? Não, são eles. São mentalidades e ideias que podem ser legitimas, mas são eles. Por mais que seja algo teu, é a tua vida e tens direito a vivê-la. Age conforme o que sentes,sem medo. É normal que já saibam, que chorem, que acusem. Mas uma coisa posso garantir-te, talvez pela minha esperança no Amor, que quando alguém, de fora o vê, o vê verdadeiramente, aceita-o. Não tenhas medo dos julgamentos, tu sabes o que és e sabes que aquilo que te move se chama amor. E se for, será suportada qualquer dor.
Força *

Nina disse...

Força, muita força é que te desejo. Poderá ser difícil. Poderá até não ser tão difícil como tu imaginas. Mas é necessário. Eu silenciei as palavras que precisava dizer, por achar que tudo estaria bem neste acordo "tu não dizes, eu não pergunto". Achei que estaria a ser altruista, por não lhes obrigar a essa conversa, logo esta familia tão pouco dada a falar sobre as coisas importantes. Fui também egoista, pois ao fazê-lo estava primordialmente a proteger-me do que poderia vir a ouvir. E fi-lo durante 10 anos. Afinal, ambas coabitámos com os meus pais, e após mudar para casa própria os convites para visita ou eventos familiares eram sempre extendidos à Lu, ao ponto de se terem tornado desnecessários porque seria óbvio que ela estaria presente. Para quê, falar? Certo?

Errado. Tu precisas, independentemente de ser custoso ou não, de o fazer. Porque agora pode ser difícil, mas os teus pais irão passar pelas fases normais do processo até chegar à aceitação. E quando chegar aí, será muito, muito bom. A melhor conquista que tu poderás alcançar, querida Orquídea. E a desconstrução dessa dúvida que persiste em ti, é necessária. Para tua sanidade. Eu soube que eles sabiam, 5 meses antes da minha mãe morrer. E foram os melhores 5 meses da minha vida. A minha mãe sabia, e por muito difícil que tivesse sido compreender e aceitar isso, ela amou-me o suficiente para aceitar (me). E o meu pai, lá com o seu jeito disse "já me chatei muito, agora não me quero chatear com mais nada na vida". E eu de repente tinha superpoderes. Tinha a meu lado a mulher que amo, que estava grávida da nossa tão esperada filha, e os meus pais aceitavam-me. Os meus medos e dar ouvidos aos meus irmãos que me diziam que não tinha o direito de fazer os meus pais passarem por isso, impediram-me de me sentir uma super mulher durante, não digo 10, mas 5 anos seguramente.

Portanto querida Orquídea, quando tiver que ser, será. Mas tem fé neles e em ti.

(se não te importas, postarei isto no meu blog)

Blue Feet disse...

Orquídea,

Estou há uns dias para te escrever, mas não me sai nada de jeito e por isso, enquanto procuro as minhas palavras, por favor, relê as da Nina (pedi-lhas emprestadas para ti e para mim própria).

Aproveito para te deixar outras que estão ali:
http://lapislavra.wordpress.com/2007/08/10/o-amor-exige-expressao/

O tempo, esse grande amigo, vai ajudar-te.

Um grande abraço!

Rita
(A Miúda dos Abraços)

Papoila e Orquídea disse...

Minhas amigas,
Obrigada por todas as palavras. São elas que me dão todo o suporte que vou precisar quando chegar o dia. Tenho muito mais força e coragem do que tinha quando aqui cheguei. Este cantinho e as pessoas que por aqui descobri, vocês e tantas outras, são tão importantes para acreditar num futuro possível. Há dias maus, como aquele em que tive necessidade de escrever isto, mas, garanto-vos, terei a força para um dia mudar o discurso e dar os passos que me competem. Obrigada... Um abraço para cada uma*

Anónimo disse...

Sim, concordo com as palavras ditas acima e entendemos com certeza do que nos falas porque já sentimos esse pesar. Mas hoje, esse pesar transformou-se em liberdade. E sou mais feliz. E tu também serás, com certeza.

B' disse...

O meu Dia nacional da liberdade de expressão amorosa, para com os meus pais, aconteceu.
Digo aqui porque foi depois de vir aqui da ultima vez.
Queria dizer-lhe que é facil, que quando nos amam o resto não importa, desde que sejamos felizes. Mas neste momento ainda não consigo dizer nada disso. Talvez com o tempo.
Faça o que fizer, quando fizer, e como fizer, faça-o com orgulho e com a cabeça erguida. É a unica coisa que posso dizer.

B' disse...

Não posso dizer que estou bem, mas quero estar.
Pensei que as coisas fossem mais faceis, que ao dizer me ia sentir muito melhor. Mas não, não de momento.
É ironico, as pessoas que mais me deviam amar no mundo, são as pessoas que pior me fazem sentir.

O "você" é uma questão de habito, não levem a mal :)