sábado, 27 de junho de 2009

Outra Porta


Não foi a primeira vez que lá fomos pela porta dos aflitos. A primeira vez foi por uma situação semelhante. Estavamos em minha casa e não dei muita importância às tuas queixas no inicio, amuaste um pouco, até que ambas percebemos que não era caso para desencontros. Doía-te muito e sofrias como nunca quis ver-te sofrer. A tua respiração mudou e não tinhas posição de alívio. Também eu me contorci à tua volta, ainda acreditando que o zelo e o carinho conseguem alguma analgesia milagrosa, mas não conseguimos. Seguiu-se a grande aventura de nos transportarmos até ao grande edificio, com taxis que não respondem a telefonemas e pernas sem forças para andar. Houve boleia. Já deitada numa maca, não me largavas a mão e quando conseguias abrir os olhos, compreendia tudo o que me dizias. Foi rápido até te ouvirem e tratarem. Seria a soro. Olhaste para mim e falaste pela dor que não te deixava pensar muito. "Não quero o soro, eu nunca tive a soro, não quero..." O que querias era a minha voz a dizer que não fazia mal, que já ia passar. Passou depressa. (ainda voltou e ainda houve mais umas quantas peripécias, mas isso agora já não interessa)

A segunda vez já teve um motivo diferente, um ouvido queixoso. Bem cedinho, fui ter contigo para te acompanhar, mais uma vez, na entrada daquela porta larga. Era cedo demais porque esperámos até às nove para que alguém nos antendesse, após uns largos 45 minutos sozinhas, sem ninguém à nossa frente. Ficou na memória a tua expressão quando a doutora te tenta observar o ouvido, a tua cara encolhida de dor, o teu corpo que se inclina o mais que pode para lhe fugir e a tua torção muito vagorosa de pescoço para olhares nos olhos da médica, ambas em silêncio durante uns largos segundos, para lhe mostrares a tua expressão facial de desaprovação pela dor que te estava a causar. Pois, meu bem, teve de ser.

E voltámos lá na sexta. The usual. Passou com o tempo, mas a outra dor, uma nova e estranha que te assustava, acabou por se revelar uma surpresa. Hernia umbilical. Viemos com energias para casa e as horas fizeram-te repetir a dose, o que nos levou a uma casa semelhante, mas mais pequenina, para te injectarem com a recuperação necessária para a festa que nos esperava.

Enfim, tudo isto para dizer que é impensável para mim não te acompanhar nestas excursões pouco desejadas. Se não estou lá, está a minha voz ao telefone. You know that.

Orquídea

PS: Alguém reconhece aquela imagem? ^^

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