Chamava-te assim, naquele verão em que tudo me levava a ti. A praia eras tu. Os livros eram tu. As nuvens, o vento, a voz, os lençóis. Estavas por todo o lado. Impregnavas cada canto, cada refúgio. Até o nada te tinha. Nessa altura já o meu corpo me dizia que te queria, embora fizesse um esforço para não o ouvir. E cá dentro havia aquela vontade de te saber de cor. Os sinais, a madeixa mais loira de todas, onde a tua cintura se dobrava um pouco mais, os teus medos, inseguranças, desejos, sonhos, alegrias e tristezas e incompreensões. Depois dei-te a mão e fiquei mais segura, tal era o reboliço em que me tinhas deixado. Aí acalmei.
Ninguém sabe como começou. Nem nós. Temos guardado como início cronológico aquele beijo incerto, inesperado e desejado de mansinho. Mas, no fundo, sabemos que o início remota à muito tempo atrás e não nos preocupamos com isso.
Sabe bem lembrar os passos. Não aqueles marcados pelos grandes passeios que fizemos, pelas descobertas, pelos lugares diferentes e mal conhecidos. Não pelos gostos coincidentes. Mas pela forma como nos entranhámos uma na outra, com tanta autorização muda. Como se não houvesse limites para o conhecimento mútuo. Como se aquela barreira que sempre existe, os segredos que nunca ninguém sabe, como quando meti o leite de chocolate aberto na mala do miúdo que fazia mal toda a gente e a mãe dele foi à escola no dia seguinte e um rapaz foi acusado do acto e não eu, tivessem sido vividos por ambas.
Enfim. Bastamo-nos.
Papoila
PS: E hoje, em tua honra, não justifico o texto.
Another Harley Ride
Há 8 horas
2 comentários:
Tão bonito, Papoila. :)
Nunca ninguém sabe quando começa, só sabes quando já lá estás, e é só isso que importa. :)
Sim, sem dúvida =) querida marisa*
Enviar um comentário