sábado, 4 de abril de 2009

Erva do campo e bicho do mar.

(post a roçar a tristeza mas, ainda assim, longe disso)

Há alturas na vida em que o sorriso é puro e ingenuamente feliz. Não conhecemos preocupações pesadas e o futuro apresenta-se certo e seguro. Depois vem, de forma bruta e em pezinhos de chumbo, the day we truly realize that nothing is for sure. Que a vida, e as suas circunstâncias, são voláteis. [E, a acrescentar à indelicadeza deste conjunto, há o péssimo timing em que ele aparece.]

Foi uma etapa delicada.
Um inverno que contou mais meses. [Já se via o vermelho encarquilhado das pétalas da Papoila.]

Esta é a história pepe-rápida da amizade entre o Nazaré e a papoila.

A Papoila precisava de ocupar o seu tempo entre as horas de estudo exacerbado. Sentia-se esvaída de planos e de entusiasmos. Era preciso cultivar mudança e novidade. Sempre achou que ajudavam a combater a solidão e a apatia... e a apatia era constante. Tinha acabado de sair de uma relação difícil, que lhe consumiu a força para lutar por mais e melhor.

Subi as escadas espiral até ao andar de cima. O director dos voluntários do Zoo (chefe, comandante, cabecilha de máfia, chulo) ostentava a sua aparência lasciva do outro lado da secretária. Eu ia, de cara quase letárgica, tentar informar-me em que área do Zoo iria trabalhar naquele dia. Pediu-me para me sentar numa cadeira a uns metros de si, para conversarmos. Sentei-me. Não vou descrever ao pormenor a forma descarada com que me abordou, nem a forma fisicamente próxima com que tentou a sua sorte no meu corpo, apenas vos digo que saí de lá o mais rápido que pude e só voltei no dia em que me foi dito que não seria mais precisa a minha ajuda. [A ajuda que ele queria não lha daria nem MORTA. ARGH! Nojo. Nojo. Nojo. Nojo.]

Não voltei a ver o Nazaré.

Tenho saudades das horas na sua companhia. Do vento da Primavera, frio e virgem, a bater-me nas pernas, no peito e na cara; a arrepiar-lhe a barbatana e o focinho quando se arriscava à tona. Do esguicho de água a jorrar para a minha roupa, como repuxo de jardim. De lhe aquecer a comida, de a preparar nas seringas-gigantes com que o alimentávamos, de lhe passar a mão pela barriga. De lhe puxar o peixe morto pelo fio (na esperança de ele o comer). Tenho saudades de lhe contar a frequência respiratória e do sol a esvanecer do outro lado do aquário. De o ver apenas com a luz dos holofotes. Tenho saudades de me confundir e tratá-lo por Ela (há uma qualquer contradição em uma baleia ser do sexo masculino). Tenho saudades.

O Nazaré vai viver para os states.

Vejam-no aqui e aqui.

Papoila

1 comentário:

Marisa disse...

Nem todos têm um Nazaré na sua vida. :p
Certeza que estará bem.