segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Retalhos de um dia

Acordo e tu estás a meu lado. Daí até nos vermos as duas sentadas à mesa, é uma correria. Mas entretanto o pão já está torrar, o leite frio adormece na caneca de Paris e as conversas divagam sobre o que há a fazer durante o dia. Depois segues para o novo estágio e eu, a muito custo, pego nos livros que pesam mais na consciência que na mala, e sigo para o café do jardim. O café do jardim não sabe ao mesmo sem as tuas pernas cruzadas nas minhas, debaixo da mesa, mas lá aqueço o peito com um galão. Na relva as pessoas exercitam, ou passeiam os pobres animais de estimação, e eu invejo-as por entre as linhas que me falam de glaucoma e as que me falam de retinopatia. Até que me ligas e me dizes que afinal o estágio é só à tarde, e mentalmente revemos as eternas críticas à faculdade, que tem tanto de organização quanto tem de nova. Almoçamos bife de atum, com sal a menos, e as tuas náuseas persistem. Faço-te uma massagem da ponta dos cabelos à ponta dos pés, abano tudo ao jeito do professor sótanga, faltando apenas os cantares crioulos para afugentar os maus espíritos. Quando dou por mim já estás no carro novamente, sozinha, deixando-me para trás. Vou ao ginásio. Enquanto o meu corpo aquece e nas maçãs do rosto se acentua um vermelho rosé, lá fora chega o pôr-do-sol, e os meus olhos arrepiam-se de frio. O dia está a chegar ao fim.

Papoila

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